04/02/2012

Kakarikeiko pessoal

     Iniciamos uma nova proposta neste blog, a cada mês um praticante será escolhido para responde uma serie de perguntas, o objetivo e que com isso todos nós possamos aprender um pouco com nossos colegas de treino.


Kakarikeiko pessoal
Data: 02/2012
Uke da vez: Felipe Novaes
Graduação atual: 3º Kyu

1-     O que tem feito você praticar o Aikido até hoje?
Eu praticava outras artes marciais antes de iniciar o aikido e sempre procurei uma prática que conseguisse mostrar uma boa eficiência na técnica mas também uma flosofia de vida. O aikido certamente foi a arte em que eu encontrei de forma mais abundante essas duas coisas. E isso é evidenciado pela relação entre os praticantes da arte, que é sempre harmônica, prestativa e amiga. A violência e o espírito de ataque ao outro não é incentivado, pelo contrário. Ueshiba criou uma arte que traduz perfeitamente os ideais das religiões orientais como o zen-budismo e o xintoísmo, apesar de Ueshiba ter dado muito mais ênfase no segundo do que no primeiro. Então o que me prende ao aikido até hoje é esse misto produzido por uma boa prática física e de defesa e a filosofia que sentimos inevitavelmente com o tempo de prática.

2-     Qual dificuldade que você tinha no início e que hoje você percebe ter melhorado?
Como eu era praticante de karate antes de começar a praticar aikido, eu acabei tendo algumas dificuldades no que se refere à fluidez da técnica do aikido, evitando choques com o uke e conduzindo seu ataque ao invés de pará-lo. A força era a mínima possível. No início foi difícil perder o reflexo de ver um soco vindo na minha direção e conduzí-lo para outra direção ao invés de bater com o antebraço ou de desviar e revidar com um soco. Mas com o tempo eu fui melhorando e acredito que tenha perdido esse impulso. E um exemplo disso é o kakarikeiko, que agora considero estar bem melhor em vista do que era antes.
Outro ponto que é bem complicado no início é conseguir executar todas as técnicas no kakarikeiko, que é uma situação em que naturalmente a gente acaba se sentindo pressionado e que o pensamento rápido e preciso na hora de aplicar a técnica são fundamentais. Aliás, é exatamente esse o problema: a idéia do aikido, e acredito que também em todas as artes marciais, é tornar a execução da técnica algo automático, que pode ser executado sem que pensemos nela. A técnica simplesmente flui. Eu lembro que li num livro sobre aikido uma vez que o mestre Ueshiba falava durante os treinos, após ensinar uma técnica, que o aluno não deveria ficar pensando nela, mas deveria esquecê-la. E acho que é exatamente sobre esse automatismo que ele falava.

3-     Em que você acha que precisa de mais treino?
Acredito que seja no kakarikeiko. Como eu disse acima, nesse momento, temos de ter todas as técnicas prontas para “saírem” de maneira automática, sem pensamento. E isso só se consegue com bastante treino. No kata, por exemplo, também precisamos desse automatismo, mas é diferente porque o uke fica parado na nossa frente então temos até um tempinho para pensarmos na ação seguinte. No kakarikeiko é tudo muito mais rápido, ou você executa a técnica corretamente e no tempo certo ou leva uma facada (de madeira, claro, mas mesmo que não machuque, a facada é algo que simboliza que ainda não estamos executando os movimentosa com muita perícia).

4-     No que você mais se identifica na pratica do Aikido?
É difícil falar em uma coisa específica. Acho que toda a proposta dessa arte marcial me agrada, desde o fato de oferecer a possibilidade de imobilizar o agressor com um dedo até de poder devolver uma agressão com uma simples esquiva ou com uma defesa em que é utilizado o próprio movimento do agressor contra ele mesmo e provocar uma queda, por exemplo. De fato, é uma proposta muito bonita, tanto estetica quanto “espiritualmente”. A facilidade com que o aikido consegue nos mudar no dia-a-dia também é surpreendente. Claro que nem todo mundo tem a capacidade de se envolver com uma arte marcial dessa maneira, mas quando isso acontece a mudança é nítida. Por isso que quando meus amigos me perguntam coisas sobre o aikido eu sempre digo que aikido é uma arte marcial que se pratica e que se sente também.

5-     Se você fosse responsável por dar uma aula, o que você acharia importante passar aos alunos nesse dia?
Essa é uma pergunta complicada porque o aikido nos ensina tantas coisas que fica até difícil selecionar o que ensinaríamos em uma aulinha. Mas eu acho que primeiro tentaria mostrar o que o aikido tem de singular em relação às outras artes. A oportunidade de aprender a nos defender de forma a encerrar um conflito é algo muito poderoso e que nos traz paz. Então, eu tentaria executar uma série de técnicas que mostrasse essa propriedade e também tentaria encaixar essa filosofia no dia-a-dia dos alunos. Não sei como seria fazer isso porque a maioria das pessoas está mais interessada em aprender uma arte marcial em nome da violência do que em nome de algo mais “espiritual”. Então, talvez, um foco muito grande na filosofia do aikido numa primeira aula não chamasse a atenção de todos, então tentar perceber isso e achar o equilíbrio na apresentação de técnica e conceitos seria legal também.

6-     Se sente satisfeito com o conhecimento adquirido até hoje?
Tem um escritor que agora não lembro o nome que disse que o animal quando está satisfeito, dorme. Então nesse sentido eu não estou satisfeito, quero continuar me aprimorando e satisfeito com o caminho que estou percorrendo, mas sem nunca parar, sem nunca dormir.

7-     Comente algo que não se pode deixar de lado nos treinos?
A disciplina é algo que nunca pode ser deixada de lado. Claro, não falo aqui de uma disciplina agressiva, mas de uma disciplina que busca focar o praticante.

8-     Se sente preparado para a sua nova graduação?
Por mais que a gente se esforce sempre dá aquele receio, mas acho que estou preparado sim. O treino é o melhor remédio.

9-     Se pudesse alterar alguma coisa nos treinos o que seria?
Acho que ainda sou bem pouco graduado para dizer como deveria ser um treino de aikido, como um Sensei deveria agir. Certamente, todos os Senseis são completamente qualificados e sábios para fazer o que fazem e eu confio no que é feito em aula. Mas acho que o treino de kakarikeiko poderia ser um pouco mais constante exatamente para pegarmos a confiança que vem quando uma técnica “entra no sangue”. E a pressão ali de um momento próximo ao que aconteceria na vida real, acaba nos forçando a desenvolver essa perícia. Talvez essa confiança adicional auxilie na execução de outras técnicas também, como no kata.

10-     Faça um pequeno comentário sobre a arte ou a pratica do Aikido ou até mesmo sobre os treinos que você participa.
Acho que comentando aqui não vou acrescentar nada que eu já não tenha dito nas respostas anteriores. O aikido é uma arte marcial especial porque privilegia a não-violência. Você pode simplesmente esquivar, redirecionar o ataque, projetar, isto é, tem um leque de possibilidade e isso faz com que não precisemos recorrer à violência. E a outra coisa interessante é que nunca se inicia um ataque. Se isso acontecer, o espírito do aikido já foi perdido.


     Caso alguém queria indicar algum praticante ou sugerir alguma pergunta e só escrever nos comentários do post.

Domo.

Um comentário:

  1. Sugiro uma pergunta.

    Como ou através de quem você conheceu o Aikido?

    Como a prática do Aikido tem se refletido na sua vida pessoal?

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